A sua verdade também importa
09:41
Esse é um assunto um pouco delicado de falar.
Algo que guardei comigo desde novinha pelo medo de ser julgada, mal
interpretada ou qualquer coisa que fazem quando uma mulher se levanta para
relatar algo que um homem fez com ela.
Bom, a situação aconteceu quando eu tinha uns
quinze anos, adolescente, estudante, morava em um bairro populoso e estudava em
uma escola que todo mundo conhecia todo mundo. Namorava um rapaz na época, um
pouco mais velho que eu mas ainda moleque de tudo, um rapaz que morava próximo de mim.
Um pouco antes de namorar esse moço - não que
seja relevante mas enfim - eu era solteira na época, conheci e me relacionar
por pouco tempo com um outro garoto da minha idade e também do mesmo bairro em que eu morava. Esse rapaz após ficar algumas vezes comigo continuou sua vida
normal, e eu também. Comecei a namorar e pouco tempo depois surgiu um boato no
bairro que eu, esse rapaz que havia trocado uns beijinhos e um amigo dele
teríamos ido para cama os três. Cidade pequena, povo com língua grande, não demorou muito pro
meu namorado da época ficar sabendo do boato e me questionar sobre a
veracidade dele. Pois bem, eu falei que era mentira, que só tinha trocado
uns beijinhos com o moço e mal conhecia o tal amigo. Apesar de ficar
extremamente chateada com o boato que com toda certeza seria espalhado pela
escola toda, eu não fiz muito caso, ficaria satisfeita se pelo menos o meu
namorado acreditasse em mim. Mas ele não acreditou. Me lembro exatamente da
cena:
"Larissa, você tá mentindo pra mim,
fulano jurou que é verdade, ele firmou o pé no chão e disse que é verdade"
Um homem. Um garoto de quinze anos. Um menino
disse que havia transado comigo e outro colega junto, jurou que havia
acontecido, eu disse que não havia, mas ele era homem, e bastou o fato dele ser
homem e firmar o pé no chão, para que a palavra dele fosse maior que a minha.
Tudo passou, terminei o namoro um tempo depois. O
pessoal da escola cresceu, o boato deve ter caído no esquecimento da maioria.
Mas no meu nunca caiu. Não que eu me lembrasse da história e chorasse no
quarto, na verdade nunca me importei muito com essas falsas acusações, mas
sempre fiquei com aquele sentimento de indignação: Por que a minha palavra não
teve crédito contra a palavra de um cara? Eu não transei com aquele rapaz e com o amigo
dele, se tivesse feito falaria numa boa. Mas isso nunca
aconteceu. E para todos que ouviram o tal boato, aconteceu sim. Ninguém - além
do meu ex namorado - perguntou diretamente para mim se tinha acontecido ou não,
só acreditaram na verdade que um rapaz contou e pronto.
O que quero levantar nesse texto é essa
questão: Quantas vezes sua palavra foi diminuída contra a palavra de um homem?
Quantas vezes você teve que se provar "inocente" perante a acusação
de um homem?
No ano passado milhares de mulheres
principalmente em Hollywood se levantaram para relatarem abusos que sofreram no passado, e todas, todas mesmo, tiveram sua palavra colocada em
risco pelo público. E quando uma delas se levantava, acusava um cara, e este respondia
dizendo: "Não é bem assim, na verdade aconteceu dessa forma e não da forma que ela está contando, ela estava bêbada, ela está exagerando, blábláblá" Todas essas mulheres foram ridicularizadas e
tiveram que presenciar um público que acreditou de primeira na fala de um
homem, mas exigiu inúmeras provas e apresentou inúmeros julgamentos na fala
dela.
Isso aconteceu há um bocado de tempo. Na época
eu era uma menina inocente e apaixonada, e mesmo sendo só uma garota me vi em um tribunal sendo acusada por algo que não cometi - e entenda que não teria problema se tivesse
cometido - e mesmo a minha palavra sendo para mim o bastante, para todas
aquelas pessoas ela não foi o suficiente. Eu não sei se você já passou por algo assim,
se teve que lutar para comprovar que sua verdade era verdade quando um homem
qualquer levantou uma mentira sobre você. Eu espero que não tenha passado e que
nunca passe. Mas se já passou - ou se infelizmente vier passar - tenha em mente
que a sua verdade tem valor sim, lute pela sua verdade, não permita que tapem
sua boca e ditem o que você deve ou não falar. Eu sei o quão exaustivo é ter
que comprovar algo que se fosse com o sexo masculino acreditariam de primeira, mas
podemos mudar isso, sabe como? Juntas!
Se uma mulher te confiar pra contar algo dê
ouvidos a ela, acredite que a vítima nunca terá "ganhos" ao relatar
uma situação que a constrangeu. Ela foi a vítima, ela foi a oprimida da
situação, a fala dela deve se sobressair a fala do agressor. Dê importância e
espaço para uma mulher quando ela se levantar para se defender de qualquer coisa
ou quando estiver disposta a relatar uma acusação. Não diminua. Não julgue. Não
condene. Respeite a fala de uma mulher, pois o que as garotas falam também têm
valor.
* Este texto é um relato pessoal da criadora do blog, Larissa Pandori. Se de alguma forma ao ler você sentiu algum gatilho por situações passadas que aconteceram com você, e quiser conversar sobre, pode me chamar, tá bem? Minha intenção é sempre o bem, e se o texto de alguma maneira te fez sentir algo ruim, vamos trabalhar isso juntas. Gostaria de ressaltar também que de forma alguma acho errado uma garota ter sua liberdade sexual e escolher os parceiros que quer se relacionar, a quantidade ou frequência deles, somos livres para decidirmos sobre a nossa sexualidade, e como cite no texto, o que me incomodou na situação em si foi o fato de não ter tido credibilidade em algo que desrespeitava a mim, e não o fato de terem falado que transei com dois rapazes, como se isso fosse algo errado de se fazer. *
Espero que tenha gostado do texto. Se quiser conversar sobre algo, pode me chamar nos comentários, tá bem?
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